Sumario: | O presente livro surge como resultado do I Encontro Historical Soundscapes realizado em 2017 na Universidade de Évora e do arranque do Projeto PASEV: Patrimonialização da Paisagem Sonora em Évora (1540-1910), em 2019. Pretende constituir-se por isso como um contributo no que se refere à reflexão e disponibilização de estudos no quadro da Paisagem Sonora (Soundscapes, conceito criado por Raymond Murray Schafer em 1970), enquanto abordagem que tem vindo a ganhar cada vez mais expressão na musicologia internacional e que permite entender a música realizada numa determinada área a partir de uma perspetiva contextual abrangente, como é o caso da escala urbana. Esta abordagem permite reconstruir contextos, circuitos, trânsitos e cartografar a presença da música e dos músicos, entendendo a música como uma atividade social, política e económica e não meramente artística. Os desafios neste domínio vasto prendem-se com a abertura à interdisciplinaridade de abordagens, à diversidade de fontes, à capacidade de "imaginar" soluções para a reconstituição de um património sonoro efémero ou perdido no tempo. O livro não se centra em exclusivo na realidade histórica de Évora, embora se apresentem estudos significativos sobre a música sacra que refletem a vitalidade da investigação que continua a aprofundar o vasto património musical associado à Catedral eborense e à realidade monástico-conventual da cidade. O processo de valorização do Património musical desta cidade no século XX e através da ação do município, é também aqui abordado. Em relação a outras realidades urbanas, um dos grandes desafios continua a ser o estudo de procissões na perspetiva da Paisagem Sonora, sendo aqui abordados os casos de Castelo Branco e Valência. Apresentam-se também estudos que incidem sobre três cidades com abordagens distintas, Vila Viçosa a partir de uma única fonte documental (textos de J. J. R. Espanca), Braga a partir da análise de uma diversidade de fontes e de espaços na cidade (periódicos, cartazes, relatos e quanto a espaços, igrejas, cafés, passeio público ou teatros) e Sevilha abordando igualmente uma diversidade de fontes e espaços num período delimitado aos sete anos de domínio de Primo de Rivera. O protocolo e festividades da Corte são abordadas em épocas e convenções distintas nos séculos XVI e XVIII. São também apresentados modelos de estudo de acordo com espaços ou instituições, como é o caso da Universidade de Sevilha ou do Palácio da Condessa de Barcelona. Dois estudos centram-se ainda nos agentes, i.e. os músicos, nas cidades de Portalegre e Nápoles. Finalmente, um trabalho singular sobre o ambiente sonoro associado ao teatro de marionetas dos bonecos de Santo Aleixo. A proposta do presente livro passa pela abertura a abordagens diversas que exploram elementos distintos e contribuem para a configuração de uma dada paisagem sonora, para estabelecer a sua identidade e singularidade. Apostando em leituras distintas de cariz multidisciplinar, fica aberto o caminho para trabalhos futuros, complementares, visando a salvaguarda da história, da memória e do património musicais.
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